“Retrato de uma princesa desconhecida”
Para que seu pulso tivessem um quebrar de caule
Para que seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino.
Sophia de Mello Breyner Andresen
1972